Algumas coisas não ficam bem juntas: cães e gatos, fãs do Real Madrid e do Barcelona, Windows e Linux, ... ou não é?
Em São Francisco, o CEO da Microsoft, Satya Nadella disse, e citamos, "A Microsoft adora o Linux".
Uau!
Percorreu-se um longo caminho desde que Steve Ballmer proclamou, em 2001, que "o Linux é um cancro". Nos anos que se seguiram, a Microsoft realmente atacou o Linux como se fosse um cancro, fazendo de tudo para o exterminar, desde patrocinar o ataque da SCO aos direitos de copyright do Linux, afirmar que o Linux violava patentes sem nome da Microsoft, até intermináveis ataques FUD.
Então, como é que o Linux passou de inimigo número um da Microsoft para seu "amor"?
Na realidade, Nadella explicou o cerne da questão, que podemos resumir na abordagem clássica duma história de detectives: "basta seguir o dinheiro".
Nadella disse à revista Wired que não está interessado em prosseguir com velhas lutas, especialmente quando, goste-se ou não, o Linux se tornou uma parte vital da tecnologia de hoje. "Se não abraçar a novidade…", disse ele, “…não vai sobreviver".
Ao fim de 22 anos, não há nada de realmente novo no Linux. Mas duas coisas são novidade: em primeiro lugar, o futuro do lucro da Microsoft não recai agora nos desktops ou nos programas desktop, mas no Azure, a sua solução cloud e em programas baseados em cloud, como o Office 365. Em segundo lugar, o Linux, mesmo na cloud Azure, é usado tanto por grandes como pequenas empresas e organizações.
Na verdade, Nadella admitiu que 20 por cento dos sistemas operativos no Azure são Linux. O sistema operativo open-source já contribui muito para a linha base da Microsoft. Hoje, o Azure ainda não suporta as distribuições comerciais Linux de topo, como o Red Hat Enterprise Linux, mas já suporta CoreOS Linux, CentOS, Oracle Linux, SUSE e Ubuntu.
Ao mesmo tempo, a Microsoft está consciente de que o Azure é o único sistema de nuvem puramente proprietário, em funcionamento. Todos os seus concorrentes - Amazon Web Services, Google Compute, OpenStack, etc. – correm em Linux e oferecem serviços de servidor Linux. Tivesse a Microsoft insistido apenas na linha Windows ou na linha de mais alto desempenho e não teria hipóteses.
Não é só o Linux que a Microsoft ama. Depois de décadas de resistência, a Microsoft suporta uma variedade de programas de código aberto, como o Hadoop (big data), Docker ou o Projecto Open Comute da Facebook. Na verdade, a Microsoft está mesmo a a abrir as suas próprias tecnologias ao open-source, tais como partes da Framewrok .Net.
A Microsoft também faz dinheiro diretamente com o Linux. As suas patentes Android, por muito questionáveis que possam ser, ainda proporcionam mil milhões de dólares de receita a mais que o Windows Phone.
Se esteve com atenção, deve ter reparado que a Microsoft começou a mudar a sua atitude anti-Linux há anos atrás.
Já em 2008, Sam Ramji, na altura diretor de Estratégia de Plataforma de Tecnologia, da Microsoft e do Open Source Software Lab da empresa, disse: "A estratégia de código aberto da Microsoft está focada em ajudar os seus clientes e parceiros a serem bem sucedidos no mundo de hoje, de tecnologia heterogénea".
Podia-se ter pensado que era apenas a Microsoft a lançar fumo. Mas, de seguida, a Microsoft começou a mostrar que não estava apenas a falar por falar quando se tratava de desenvolvimento open-source.
Em 2011, a Microsoft já era o quinto maior contribuinte de código para o kernel do Linux. O que é que eles estavam a fazer? A certificar-se que o Linux poderia trabalhar com a virtualização da Microsoft – o Hyper-V. E o Hyper-V está no coração de Azure.
Como se pode ver, a paixão da Microsoft não é tanto pelo Linux e pelos sistemas open-source em si. O facto é que, em 2014, o mundo está a deixar o velho paradigma de computação desktop/aplicação e a dirigir-se para para uma abordagem de dispositivo/ serviços de nuvem. A Microsoft dirigiu o antigo. No entanto, para continuar a ser um competidor no novo paradigma, a Microsoft já percebeu que necessita trabalhar e jogar bem com os outros. Sim, mesmo até com o Linux.
Tradução livre do artigo “Why Microsoft loves Linux”, de Steven J. Vaughan-Nichols, para a ZDNet.
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